

Psicóloga Ana Carolina Carvalho Pascoalete

A Perversidade crescente no mundo
Falar de bullying nos dias atuais é referir-se a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais ou repetitivas, que podem ocorrer sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizados dentro de uma relação desigual de força ou poder.
É um problema que ocorre mundialmente, em qualquer contexto nos quais pessoas interagem em escolas, universidades, clube, igreja, ambientes familiares, local de trabalho, ou até, entre vizinhos. As crianças vítimas de bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima, com tendências a problemas de relacionamento, podendo, inclusive, exteriorizar comportamentos agressivos, e em casos extremos pode estimular a tentativa de suicídio.
Os indivíduos que testemunham o bullying, tendem a conviver com a violência e se silenciam em razão de temerem ao agressor, experienciando sentimentos de medo e ansiedade. Em pesquisas realizadas no Brasil com alunos de escolas públicas e particulares, revelaram que o bullying ocorre com maior frequência no decorrer do ensino fundamental, e as cidades mais afetadas com essa violência, são Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. É a forma de violência que mais cresce no mundo e atormenta um grande número de vitimas.
A ajuda psicológica é fundamental para amenizar a difícil convivência com as memórias tão dolorosas. Nas escolas, os conflitos entre crianças e adolescentes são comuns, pois essa é uma fase demarcada pela insegurança, autoafirmação e construção da identidade, e deve se tornar preocupante quando os desentendimentos evoluírem para a humilhação, pois pode desencadear o bullying e sua proliferação.
Os agressores buscam por vítimas que, normalmente, destoam dos demais por alguma peculiaridade, com tendência a serem os alvos; os novatos, os tímidos, os com traços físicos que fogem do padrão ou, ainda, os que se destacam por boas notas. Cerca de 80% das escolas brasileiras com estatísticas de bullying não tomam providências em relação a essas ocorrências. Os alunos que sofrem bullying podem apresentar comportamentos como: recusa de ir a escola, tendência ao isolamento, falta de apetite, insônia ou dor de cabeça, queda no desempenho escolar, febre e tremor.
O bullying pode ocorrer por meios de: cyberbullying, formas tecnológicas seja pela internet, redes sociais, e-mails e ou celulares, verbais; quando o bullying acontece por meio de apelidos, insultos, palavras de baixo calão, moral; pode ocorrer por meio de boatos, difamações e calunias, físico; envolvendo agressões, empurrões, chutes, psicológico; com aspectos que envolvem chantagens, manipulação e perseguição, material; quando é definido por situações que envolvem roubos, furtos, destruição de pertences, e sexual; cometido por meios de abusos e assédios sexuais.
Para a psicanálise o bullying pode ser percebido como um impuro reflexo de um modelo social preconceituoso e que nos cobra constantemente o prazer, o gozo e o sucesso. A sociedade se divide entre os que conquistam o direito de gozar e os outros, usados e abusados pelos mais espertos. Esse gozo referenciado nada mais é que uma alusão ao principio de prazer de Freud, e que pode ser observado em crianças e adolescentes de nossa sociedade, sempre em busca de diversão, rejeitando regras ou hierarquias, buscando satisfação em prazeres imediatos, mesmo que para isso, necessitem desconsiderar e mostrar-se superior as autoridades instituídas pelos mais velhos. O egoísmo patente nas relações despojadas de senso de alteridade é visível. É o sentimento de onipotência natural no jovem, levando a consequências desastrosas.
Entretanto, o bullying é fruto de um mundo contemporâneo, que necessita mais do que ações que garantam a redução de seus números, carece urgentemente de ações que ataquem seu âmago, propiciando uma formação de valores morais que possa ultrapassar as ideias de solidariedade existentes atualmente. Precisamos de uma educação fundamentada em princípios éticos, valores humanos e criticidade, que garantam o direito do convívio e ao aprendizado, em ambiente seguro e solidário. O bullying é um problema nascido de um modelo social neurótico e neurotizante.
