

Psicóloga Ana Carolina Carvalho Pascoalete

Será que seu filho sofre mesmo de TDHA?
Muito falado nos dias de hoje, o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma desordem neurobiológica, de causas genéticas que geralmente aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda sua vida. Caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade, o TDHA geralmente é intensificado no período escolar, como em atividades com o estudo, leitura ou outras que exijam concentração. As principais queixas familiares e da escola é distração, agitação, impulsividade, esquecimentos, desorganização, adiamento crônico.
Nos últimos dez anos foi revelado um aumento de 66% do número de crianças diagnosticadas com TDHA nos Estados Unidos, de acordo com a Faculdade de Medicina Feiberg, da Universidade de Northwestern. Estima-se que naquele país existam mais de 10 milhões de crianças com o transtorno, enquanto que no Brasil esse número chegue aos 2 milhões.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) constatou um dado alarmante. O medicamento “metilfenidato”, comercialmente conhecido como Ritalina, teve um aumento de 373% em sua produção e importação no Brasil nos últimos dez anos e 775% de aumento em seu consumo. O produto é utilizado no tratamento do TDAH.
Segundo a psicóloga e neuropsicóloga Ana Carolina Pascolaete esse aumento pode ser um reflexo de uma maior busca por tratamento, mas também a consequência de um diagnóstico sem avaliação adequada e cautelosa. E isso seria muito perigoso.
“Há casos em que a criança é diagnosticada por apenas um profissional sem que seja considerado seu contexto social, histórico ou questões emocionais. É extremamente importante que a avaliação seja feita por uma equipe multiprofissional, não centralizando no psiquiatra. A avaliação neuropsicológica realizada por um psicólogo especializado, busca, em toda patologia, investigar quais funções cognitivas que estão preservadas e as que estão comprometidas. A partir desta avaliação é possível estabelecer intervenções de tratamento e reabilitação adequada”, garante Ana Carolina.
No caso de um diagnóstico positivo, é importante que, paralelo ao medicamento – quando este for necessário – o paciente seja acompanhado por uma psicoterapia para que ele possa aprender a lidar com suas dificuldades. “É extremamente importante que os familiares também sejam encaminhados para um psicólogo, para que recebam orientação adequada e aprendam a administrar questões relacionadas ao paciente”, explica.
Muitas vezes, devido à ansiedade da família, a busca por ajuda é voltada para uma resolução rápida e mais cômoda possível, reforçando a cultura de que somente a medicação resolverá o problema. “Vale ressaltar que o TDAH não é só um problema de aprendizagem, é um transtorno que envolve simultaneamente o funcionamento cognitivo (mental, de aprendizagem), comportamental, emocional, familiar, escolar e profissional. Para um diagnóstico preciso é necessário um profissional que trabalhe com visão ampla das queixas que o paciente relatar nas consultas. Essas áreas são abordadas por psicólogos, neuropsicologos, médicos psiquiatras. Além de outras áreas; especialidades como neurologistas e em alguns casos pediatras, com certas condições de conhecimento e prática suficiente para investigar os sintomas”, reforça.
O TDAH geralmente gera problemas diversos na vida do portador, como erros frequentes no trabalho ou na escola, ocasionando demissões ou repetição do ano escolar, desorganização, pouca produtividade, problemas de relacionamento interpessoais ou conjugais, problemas com gastos excessivos, perda de prazos, autoestima diminuída. “O diagnóstico correto melhora a qualidade de vida do paciente. Consequentemente, o diagnóstico errado, além de não pensar em técnicas adequadas para amenizar os sintomas, ainda compromete a qualidade de vida desse indivíduo”, alerta.
Ana Carolina reforça que o tratamento do TDAH deve ser multimodal, ou seja, uma combinação de intervenções; medicamentos e psicoterapias, além de técnicas especificas que ajudem os portadores a desenvolver diferentes habilidades, e apesar de não ter cura, é importante que o paciente aprenda a lidar com seus sintomas, evitando ou limitando os prejuízos em sua vida e que possam viver com qualidade, inseridos socialmente e alcançando grandes objetivos.
“O tratamento é abrangente e individualizado, cada criança, adolescente ou adulto com TDAH pode responder ao tratamento proposto de forma diferente, por isso é tão importante que ocorra acompanhamento com profissionais capacitados e a família bastante próxima e participativa”, conclui
O Déficit de Atenção com Hiperatividade
