

Psicóloga Ana Carolina Carvalho Pascoalete

Em que momento da vida do aposentado é comum perceber os sintomas da desmotivação? (essa sensação de "invalidez" diante a sociedade)
Não existe uma idade especifica da vida do aposentado para perceber os sintomas de desmotivação, e não necessariamente todos os aposentados vivenciam esse momento, porém nas próximas décadas teremos um número intenso de idosos e nossa sociedade não se preparou para esse fato. No entanto devido a essa falta de preparação da sociedade para que as pessoas vivam essa terceira idade com qualidade de vida, vivenciamos hoje muitos idosos que se sentem inválidos diante da sociedade, e esse momento ocorre quando o individuo deixa de se sentir útil para a sociedade, com muito tempo ocioso, abandonado as tarefas ou atividades que lhe proporcionam satisfação, muitas vezes pelas baixas remunerações
Idosos - Matéria Jornal O Liberal
previdenciárias, quando percebem suas limitações físicas, quando deixam de se socializar, quando sente o preconceito e falta de respeito da sociedade e família, o afastamento dos familiares, amigos, morte de pessoas próximas do ciclo de convivência, por problemas de saúde.

E como é possível evitar esta sensação? Que atividades são indicadas tanto aos que têm disposição física, e também para os que têm limitações?
Sim, seria possível na maior parte dos casos evitar que idosos se sintam desmotivados pela vida. E para isso é fundamental demonstrar aos idosos os seus sentimentos por ele, como; amor, carinho, permitindo que ele se sinta seguro e fazendo parte da família. É necessário paciência, porque sabemos que pessoas na terceira idade apresentam teimosia, manias, repetem muitas vezes historias que pode cansar. Precisamos reconhecer a sabedoria de quem viveu mais, solicitando opiniões quando possível. É necessário ficar atento a saúde, porque idoso por receio de dar trabalho evita falar quando não esta sentindo –se bem, e pode interferir na qualidade de vida. É necessário respeitar o idoso, evitando depositar frustrações ou problemas que apontem os custos que ele gera, as limitações acarretadas pela idade, aceitando assim seus limites e evitando delegar atividades que sugiram serviço pesado, raciocínio rápido e ótima memória. Evitar discussões na frente dele que o envolva ou envolva outros membros da família. Necessário uma rotina com hábitos de sono e alimentação adequados. Estimulando a ter laser, como ir ao cinema, uma volta no parque, ou qualquer situação que lhe gere satisfação e criar situações para que ele se sinta incluído, estimulando –o ir a padaria, supermercado de maneira que ele se socialize e se mantenha informado sobre os acontecimentos.
As atividades a serem incluídas como motivadoras dependem de cada individuo, é necessário sensibilidade para perceber o que é possível com cada idoso e conhece –lo para sugerir e estimula ló a vivenciar situações que fazem parte de suas preferências, e identificações pessoais. Uma caminhada para o idoso com mobilidade física, hidroterapia ou fisioterapia para alongar para o idoso sem mobilidade física, pensando sempre em cada idoso como ser único com toda sua subjetividade.
Existem aposentados que continuam trabalhando somente para não se sentirem "inúteis", mesmo que já estejam com cansaço mental. Isto é aconselhado? Por quê?
Com certeza existem muitos idosos que continuam trabalhando somente para não se sentirem inúteis, mesmo que já estejam cansados e fadigados. Entendo ser muito signitificativo o trabalho na terceira idade, mas o que vemos nos dias atuais, são idosos que trabalham para complementarem a renda da aposentadoria que no nosso país não é o suficiente para uma velhice digna, com salários que mal pagam as despesas da casa, com saúde que tende a ser mais debilitada nesse período da vida. O trabalho seria significativo, se fosse proposto dentro das limitações do idoso, com carga horário reduzida, sem grandes cobranças ou pressões, respeitando seu raciocino, memória, reflexo, limitações físicas em geral. A maior parte dos idosos que se mantém no trabalho relatam a satisfação de se manterem incluídos na sociedade, se socializando e consequentemente isso trás felicidade.
Como a família deve lidar com a pessoa aposentada que esteja passando por esta situação?
A muito que pensar e mudar na nossa sociedade, porém já é notório que o idoso tem sido presença cada vez mais relevante na literatura cientifica, dada a preocupação que tem despertado para estudiosos das diferentes áreas de conhecimento. O aumento expressivo dessa população idosa no Brasil se constitui em desafios de múltiplas naturezas, inclusive para serviços diversos, dentre os quais; a educação ( como curso diversos, principalmente de informática, universidade para terceira idade), manter –se ativo, física e intelectualmente, naquelas tarefas que sempre gostou, continuar vinculado ao mundo, comprometer-se com a comunidade e as instituições (trabalhos voluntários, pastorais, etc). É preciso que a família estimule o idoso após a aposentadoria a realçar, no entanto, que não se trata apenas de dedicar mais tempo aquelas tarefas e atividades que sempre gostou, mas também explorar novas atividades, novas identificações. As pessoas que conservam sua curiosidade, sua vontade de aprender e de experimentar coisas novas, como o uso do computador, são sem duvidas, as que podem desfrutar melhor do seu tempo com menos obrigações e uma liberdade maior para fazer o que desejam frente a vida e o mundo.
Na sua opinião, existe um preconceito da sociedade com este público da melhor idade? Por quê?
Sim, sem duvida existe preconceito da sociedade com idosos. È comum muitas vezes ouvir a expressão “velho” ser usada de forma pejorativa e até mal trato por parte de familiares. Mas também o preconceito com os idosos podem ocorrer de maneira velada com a desintegração da identidade da pessoa, como se o processo de envelhecer tivesse apagado sua individualidade, transformando todos que envelhecem em uma ideia coletiva de iguais. Existem muitas crenças a respeito do processo do envelhecimento que resultam em estereótipos negativos, rotulando os idosos como; mal humorados, dependentes, encostados, passivos. Podemos notar discriminação com relação a essa fase da vida tão graves como preconceito de qualquer outra origem e serve para percebermos que esse preconceito esta tão embutido na sociedade de forma que não se perceba sua existência.
Vivemos um apelo social para sermos sempre jovens, que envelhecer parece ofensivo, e propicia um campo inconsciente nos indivíduos como se a velhice não fosse chegar para si mesmo.
Precisamos reconhecer que aquele que envelhece teve tempo para obter experiências e transformar suas experiências em sabedoria, embora ainda não exista esse reconhecimento socialmente. È necessário uma nova visão de idoso, até porque com os avanços tecnológicos e outros fatores ocorrera um aumento da longevidade de vida.